Ao traçarmos um panorama sobre carreiras femininas, percebemos que as dificuldades se iniciam ainda no momento das mulheres ingressarem no mercado de trabalho.
De acordo com dados do IBGE divulgados em 2019, 65% da mão de obra geral do mercado ainda é masculina, em comparação com 45% feminina. Quando conquistam a contratação, as mulheres podem passar a lidar com dificuldades como:
- Distinção salarial. Segundo a mesma pesquisa, as trabalhadoras brasileiras podem receber até 20% a menos que os homens, mesmo exercendo as mesmas funções.
- Dificuldade de ascensão de cargos: no Brasil, uma pesquisa realizada pela Opinion Box demonstra que 12,6% das empresas participantes do estudo não têm nenhuma mulher em cargo de liderança e 46,6% têm mais homens do que mulheres em postos de tomada de decisão. A 8ª edição da “Women in the Boardroom” demonstra que esse desafio é global e apenas 6% de CEOs são mulheres no mundo.
Na contramão desse cenário, surgem pessoas como Renata Feltrin, diretora executiva da CI&T, que além de 20 anos no mercado de tecnologia e uma carreira executiva com foco em estratégias de inovação e transformação digital, vem trilhando o caminho de inspirar e acelerar carreiras femininas.
Iniciando sua jornada como corretora de redação dos alunos de cursinho e fazendo estágio em publicidade, Renata teve seu primeiro contato com a tecnologia e inovação ainda na faculdade, quando decidiu criar uma empresa para desenvolver sites e “tirar as empresas das páginas amarelas”.
Uma mudança para São Paulo e uma pós-graduação em Criação Visual e Multimídia a conduziram até a CI&T, onde começou como web designer.
“Evolui para analista de negócios, gerente de projetos, gerente executiva e diretora executiva ao longo de uma carreira que me proporcionou a oportunidade de trabalhar com grandes marcas e vivenciar o cerne de seus processos de transformação digital.”
– Renata Feltrin, diretora executiva da CI&T
A executiva compartilha sua visão, destacando ações que as mulheres podem adotar para impulsionar suas carreiras, bem como políticas que as empresas podem implementar para promover o desenvolvimento das carreiras femininas. Confira:
Com base em sua experiência e observação do setor, quais estratégias você recomendaria para acelerar as carreiras femininas na tecnologia e inovação?
Primeiramente, nunca deixe de estudar e ser curiosa, isso vale tanto para homens quanto para mulheres. Para as mulheres, é importante entender desde cedo que a dinâmica corporativa ainda é predominantemente voltada para os homens, e compreender essa dinâmica para aprender a “hackear” o sistema.
Demorei a perceber isso e só me dei conta de que “era mulher” quando cheguei ao meu primeiro cargo executivo, depois de muitos homens que começaram comigo. A partir daí, passei a agir com muito mais intencionalidade para me posicionar e abrir espaço para outras mulheres nas mesas em que, muitas vezes, eu era a única mulher presente. Infelizmente, essa realidade ainda é comum na tecnologia.
Por isso, é crucial buscar homens aliados, pois a dinâmica ainda é dominada por eles, e é necessário construir com aqueles que terão o poder e a voz para mencionar seu nome em uma oportunidade em uma sala de reunião fechada.
Quais obstáculos as empresas e pessoas que buscam promover essa transformação podem enfrentar no processo de aceleração de carreiras femininas? Teria algum conselho de como superá-los?
Um grande desafio é o mercado estar pronto para receber e desenvolver mulheres após a maternidade. Isso é um grande absurdo, mas é a realidade. Em 2023, Claudia Goldin, premiada com o Nobel de Economia, destacou em seu estudo a relação entre a carreira feminina e a maternidade, evidenciando como esses fatores influenciam a participação das mulheres no mercado de trabalho e a disparidade salarial entre os gêneros.
Ela prova que, no passado, as diferenças salariais eram atribuídas à educação e às escolhas profissionais, mas atualmente, a maior parte dessa disparidade ocorre entre mulheres que ocupam a mesma profissão, intensificando-se após o nascimento do primeiro filho. Sempre digo que quando um homem anuncia no trabalho que será pai, a primeira reação é: “precisamos garantir um aumento para o vice agora”, enquanto uma mulher que anuncia sua gravidez ouve: “esqueça qualquer tipo de promoção agora”.
Isso continuará sendo um problema enquanto não tivermos políticas que apoiem uma divisão mais equitativa das responsabilidades domésticas e de cuidado com os filhos, para que tanto homens quanto mulheres possam progredir em suas carreiras sem desvantagens desproporcionais.
De que forma a inovação e tecnologia podem contribuir para a geração de impacto positivo e de equidade?
Não avançaremos para nos tornarmos uma sociedade mais preparada para o futuro se a única inovação na qual nos concentrarmos for a tecnológica.
Precisamos avançar no mesmo ritmo em inovação humana: ética e equidade são questões nas quais precisamos nos empenhar rapidamente para alcançar uma realidade social que garanta oportunidades e soluções necessárias para a sociedade atual.
– Renata Feltrin, diretora executiva da CI&T
Quando damos espaço de forma equitativa para mulheres no desenvolvimento de soluções tecnológicas e permitimos que elas tenham voz em mesas que lideram processos de inovação, abrimos possibilidades para novas perspectivas e soluções que surgem a partir das experiências e necessidades únicas das mulheres. Isso representa uma oportunidade enorme, pois vivemos em uma sociedade diversificada que requer soluções igualmente diversas.
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