Uma pesquisa realizada pela Think Work mostrou a realidade de mulheres que conciliam carreira e maternidade no Brasil.
O estudo, realizado com cerca de 200 trabalhadores e trabalhadoras, mostra o impacto da parentalidade na vida profissional: 36% das pessoas que participaram da análise acreditam que não foram promovidas por conta de suas condições de pais e mães. Ao mesmo tempo, 29% relatam ter perdido vagas de emprego por esse mesmo motivo.
Quando adicionamos a lente de gênero, podemos perceber que os desafios impostos às mulheres são maiores: mais da metade das profissionais afirmaram ter menos oportunidades de crescimento na carreira após se tornarem mães, enquanto, no caso dos homens, esse número cai para 30%. Já cerca de 45% delas sentem que, depois da maternidade, foram menos chamadas para participar de projetos.
Além disso, mais de 40% das mulheres contam terem sido menosprezadas no trabalho por serem mães – quantidade cinco vezes maior do que o relatado por homens que têm filhos.
Uma pesquisa feita pelo IBGE em 2021 reforça como a falta de equidade, quando se fala em carreira e parentalidade, ainda é grande. A quantidade de mães que têm a oportunidade de ingressar ou se manter no mercado de trabalho (54,6%) é muito inferior à de homens (89,2%).
Neste artigo, conversamos com a Chief Investment Officer do WE Ventures, o primeiro fundo de investimentos para mulheres na área da tecnologia, parceiro e investidor da WE Impact. Marcella Ceva conta um pouco da sua jornada conciliando maternidade e carreira, compartilha dicas valiosas para mulheres que desejam seguir esse caminho e para corporações se tornarem realmente inclusivas para mães.
Por que a oposição entre maternidade e carreira é prejudicial?
Além de ir contra os valores da diversidade e inclusão, ao excluir mães e pais de um time, uma empresa perde também profissionais que desenvolveram habilidades importantes para o trabalho.
Isso acontece porque, ao se tonar cuidadora primaria de alguém, a pessoa passa por:
– Alterações biológicas ligadas ao “benefício da espécie”: o corpo humano desenvolve ou potencializa características que vão contribuir para essa nova missão. O efeito é o afloramento de características como empatia, foco e concentração, por exemplo.
– Mudanças por necessidade: desenvolvidas porque, muitas vezes, as pessoas responsáveis pelas tarefas de cuidado não contam com uma rede de apoio. Para não deixar nenhum pratinho cair, elas acabam desenvolvendo maiores habilidades de gestão e organização.
Você pode entender mais sobre esse tema em outra entrevista publicada aqui no blog WE Impact, com a fundadora da Mommy Tech, Renata Lino, disponível aqui.
Começo da jornada no ecossistema
Advogada por formação, Marcella conta que iniciou sua carreira em Direito Corporativo e, tempo depois, passou a realizar operações de M&A como advogada. Depois de um tempo nesse setor, surgiu a oportunidade de migrar para o mercado financeiro para fazer a execução de M&A e investiment bank. O que, para ela, foi um período de muito trabalho, porém, muito gratificante.
“Fiquei nessa área por quase 10 anos. Apesar de ser um ritmo enlouquecido, em que precisava trabalhar 15 horas todos os dias, eu estava muito feliz, amava o que fazia e amava as pessoas.” relata.
Após uma restruturação de marcado somada à sensação de que já havia encerrado seu ciclo naquele local, Marcella realiza uma pausa e durante esse período tem seu primeiro filho.
Quando ele estava com 4 meses, foi convidada para assistir o lançamento do fundo WE Ventures.
Fui assistir ao lançamento do fundo e foi incrível, fiquei encantada! Faço parte de vários grupos de mulheres do mercado financeiro – compartilhei com elas, incentivei a postarem no LinkedIn e voltei para casa para amamentar meu filho.
Marcella Ceva, Chief Investment Officer do WE Ventures
Pouco tempo depois, Marcella recebeu uma ligação do gestor do fundo. “Ele me ligou e disse que estava procurando uma head para o fundo. Eu disse que tinha várias pessoas para indicar, e ele respondeu: “estava pensando em você mesmo”, conta.
Com um filho de 4 meses, ela não havia nem pensado em voltar a trabalhar, mas, depois de um tempo refletindo, aceitou o desafio de ser uma mãe nos ecossistemas de investimentos, tecnologia e inovação.
Com isso, fui conectada ao time da Microsoft e foi, na verdade, o meu primeiro contato com tecnologia! Eu tinha experiência com bancos de investimento, devido ao período em que atuei como advogada financeira, mas não de tecnologia e inovação.
– Marcella Ceva, Chief Investment Officer do WE Ventures
À frente do fundo, ela já ajudou a captar R$ 60 milhões para o empreendedorismo feminino em tecnologia, e a realizar aportes em startups como a Mobees, a Smarkets e a Pack ID – que, inclusive, já teve seu exit.
Além disso, o WE Ventures foi o primeiro investidor da WE Impact, permitindo a realização do programa de desenvolvimento que contou com mais de 1.500 startups inscritas em 2019, e os nossos aportes nas #investidasWEImpact.
Por ser um fundo de Corporate Venture Capital, a nossa parceria é o que proporciona a conexão das nossas startups com as corporações cotistas. Junto com a Microsoft, idealizadora do WE Ventures com a Bertha Capital e a M8 Partners, tambám fazem parte dessa rede: Grupo Multi, Suzano, Porto, Flex, Grupo Sabin, Magnamed e AgeRio.
A novidade mais recente divulgada pelo fundo foi a abertura da sua primeira chamada com a AgeRio, focada em startups fluminenses com faturamento de pelo menos R$ 2 milhões ao ano, que tenham uma ou mais mulheres em posição de liderança e com participação no capital social da empresa. As inscrições ficam abertas até o dia 31 de maio de 2023, inscreva-se pelo site.
Como conciliar a maternidade e carreira
Hoje, sendo mãe de dois meninos, Marcella compartilha que trabalhar depois de ter filhos foi o maior desafio profissional que já teve, e alterou a forma como ela enxerga sua vida profissional.
“Mudou completamente a minha relação com o trabalho, que era meu alicerce, tudo na minha vida girava em torno do dele… e, a partir do momento em que tive meus filhos, essa prioridade mudou completamente”, afirma.
Para mulheres que estão vivendo esse desafio ou pretendem conciliar carreira e maternidade, ela compartilha algumas dicas:
– Seja mais gentil com você mesma e não se culpe: Marcella acredita que as mães que atuam no mercado precisam olhar para suas ações com mais gentileza e reconhecer que estão entregando o melhor que podem, em casa e no trabalho.
“A gente se pressiona muito para ser perfeita no trabalho, se pressiona muito para ser perfeita como mãe, e perfeição não existe. A criança só precisa de amor, e o trabalho é um trabalho, você vai conseguir entregar!”, reforça.
– Seja mais vocal: não tenha medo de compartilhar tudo o que você passa ao conciliar carreira e maternidade, porque, na maioria das vezes, as pessoas não sabem quais sãos esses desafios.
Precisamos falar no trabalho: “o meu filho está doente, não vou conseguir ir”, “vou na escola ali rapidinho participar de uma apresentação de Dia das Mães”. Precisamos mostrar essas jornadas duplas que a mulher tem, não podemos continuar engolindo e fingindo que ela não existe.
– Marcella Ceva, Chief Investment Officer do WE Ventures
– Não se compare: a CIO também destaca a importância de não se basear na maternidade que outras mães compartilham. Na sua visão, existem muitas pessoas que tentam vender a imagem de que ser mãe é algo fácil, e com isso surgem expectativas irreais, autocobrança e estresse.
Incentivando a carreira e maternidade na prática
Para empresas comprometidas a criar um ambiente realmente inclusivo para mulheres que conciliam carreira e maternidade, ela cita três pontos fundamentais: jornada flexível, home office e licença parental.
Para além disso, a CIO reforça um valor que deve guiar essa e todas as outras iniciativas da empresa: “antes de tudo, é importante ter empatia, essa é a palavra-chave que deveria pautar todas as ações”.
Se você atua em uma startup ou corporação e quer saber como contribuir para a inclusão das mães no mercado de trabalho, indicamos a cartilha Princípios de Empoderamento das Mulheres para Startups, produzida pela WE Impact em parceria com a ONU Mulheres e Gema Consultoria.
O material apresenta posicionamentos, ações e mecanismos concretos que as empresas podem adotar para promover valores como diversidade, liderança e empoderamento feminino em todas as suas fases de desenvolvimento.
O conteúdo tem como base os Princípios de Empoderamento das Mulheres da ONU, também conhecidos como WEPs – Women’s Empowerment Principles. Clique aqui para baixar!