O estudo “Tackling Social Norms: A game changer for gender inequalities”, realizado pelo PNUD em 75 países e territórios, relata que 91% da população masculina e 86% do público feminino mostraram ter ao menos um preconceito ligado a mulheres na política, economia, educação, violência doméstica, direitos reprodutivos, entre outros campos. Boa parte desses preconceitos são estruturais e se dão devido aos vieses inconscientes e aos estereótipos de gênero.
O estudo faz um recorte sobre a opinião das pessoas a respeito de mulheres em cargos de liderança e o padrão se repete: 50% das entrevistadas e entrevistados acreditam que homens são melhores como líderes políticos, e 40% pensam que os homens são CEOs superiores.
Esse pensamento pode estar diminuindo a performance de muitas empresas: segundo dados do Banco Mundial, a produtividade por trabalhador poderá aumentar em até 40% se todas as formas de discrimininação contra funcionárias e gerentes mulheres fossem eliminadas.
Pensando que as corporações representam 70% das vagas de trabalhos formais no Brasil e são locais onde uma pessoa brasileira passa em média 1.763 horas por ano, de acordo com dados da OCDE, percebemos que promover ações para mudar essa mentalidade no local do trabalho pode gerar impacto positivo para a sociedade como um todo.
Para contribuir com essa transformação, a WE Impact oferece periodicamente um treinamento sobre Vieses Inconscientes para seus corporates parceiros e startups do portfólio, promovido em parceria com a ONU Mulheres.
Quer entender mais sobre esse tema e trabalhar para reduzir os preconceitos e estereótipos no seu ambiente de trabalho? Então acompanhe esse artigo com os principais aprendizados compartilhados no treinamento:
O que são vieses inconscientes?
5 tipos de vieses inconscientes
O que podemos fazer para desafiar os vieses?
O que são vieses inconscientes?
Os vieses inconscientes são normas sociais não escritas que determinam qual é o papel esperado que cada grupo de pessoas ocupe na sociedade. Eles surgem de preferências ocultas e suposições profundamente arraigadas que influenciam a forma como vemos a realidade. Como o próprio nome já diz, esse tipo de pensamento acontece sem a nossa consciência e está fora de nosso controle.
“Os vieses são praticamente uma lente, não é algo que inventamos e sim algo que realmente internalizamos. Eles são inconscientes, ou seja, não conseguimos controlá-los. A mudança só acontece quando mudamos a nossa mentalidade para ‘pensar fora da caixa’”
Tayná Leite durante o treinamento Vieses Inconscientes
Eles geram associações que fazemos sem refletir e que resultam em julgamento, premissas e atitudes em relação aos outros; são baseadas em estereótipos e preconceitos e afetam nossas ações e decisões sem que prestemos atenção.
É importante dizer que o viés em si não necessariamente é bom ou ruim: todo mundo vai ter alguns vieses, eles são uma leitura subjetiva da realidade. A questão é quando a nossa leitura da realidade se transforma em preconceito, podendo gerar exclusão, discriminação e generalização de determinadas situações e grupos sociais.
É o que acontece quando falamos sobre os lugares que as mulheres ocupam e as formas como elas são tratadas dentro das empresas: de acordo com dados do Fórum Econômico Mundial, os vieses inconscientes entre gerentes são um dos principais desafios para a igualdade de gênero dentro das organizações.
Em segundo lugar, o estudo cita a “falta de equilíbrio entre a vida e o trabalho” e a “baixa representatividade”, itens que também surgem devido a uma visão estereotipada e enviesada dos papéis femininos.
5 tipos de vieses de inconscientes
Existem inúmeros tipos de vieses inconscientes. Nesse sentido, a professora Regina Madalozzo, Coautora do guia “Vieses inconscientes, equidade de gênero e o mundo corporativo”, promovido pelo Insper, Movimento Mulher 360, Pwc e ONU Mulheres, apontam 5 tipos que podem influenciar negativamente nossas ações, escolhas e julgamentos:
1. Viés de Afinidade: provoca uma tendência de avaliarmos melhor as pessoas que se parecem conosco. Em um ecossistema onde a maioria dos cargos de tomadores de decisões são ocupados por homens brancos e com idades restritas, esse viés se torna um grande desafio para a busca da diversidade e inclusão nas organizações, contribuindo para a exclusão de grupos minorizados pela sociedade.
2. Viés de Percepção: quando acreditamos e reforçamos estereótipos sem base em fatos. Um estudo que demonstra essa situação foi realizado na universidade Yale:
Dois candidatos com graduação no campo de ciências – um aluno (John) e uma aluna (Jennifer) – apresentaram o mesmo currículo para uma vaga de gerente em um laboratório, que foi avaliado por 127 professores. O resultado da avaliação de Jennifer foi sempre pior, e ela ainda recebeu ofertas salariais inferiores às do colega.
3. Viés de halo/ auréola: na busca por informações que confirmem nossas hipóteses, utilizamos apenas um ponto agradável para classificar todo o resto de forma positiva. Nesse caso, outras informações que poderiam ajudar na construção de uma opinião consistente são descartadas e os riscos de se fazer escolhas enviesadas aumentam.
Isso pode acontecer em feedbacks, por exemplo. Gestores que avaliam uma pessoa com uma nota alta em uma ou duas áreas-chaves tendem a dar pontuações favoráveis em todos os outros aspectos, sem realmente ter realizado uma análise sobre eles.
4. Viés confirmatório: acontece quando buscamos informações que confirmem nossas hipóteses iniciais e ignoramos informações que as coloquem em xeque.
Isso acontece, por exemplo, quando analisamos um relatório com diversos dados, mas damos importância somente àqueles que estejam de acordo com a nossa crença inicial.
5. Efeito de grupo: propensão a seguir o grupo para não desviar do padrão vigente. Isso acontece quando apenas uma pessoa com opinião diferente acaba cedendo à pressão inconsciente de um grupo e mudando a sua concepção sobre determinado assunto.
Esse viés demonstra também como incluir apenas uma mulher na empresa ou em uma posição de liderança não contribui de forma eficiente para a diversidade de gênero. Nesse cenário, a tendência é que com o tempo essa única pessoa passe a reproduzir os padrões já existentes naquele ambiente.
Como mudar essa mentalidade?
O primeiro passo para desafiar os vieses inconsistentes é entender como eles funcionam e identificá-los na sua empresa, na sua vida pessoal e na sua forma de pensar.
Para isso, o Teste de associação implícita da Harvard Edu pode te ajudar a descobrir suas associações inconscientes sobre raça, gênero, orientação sexual, entre outros temas. A partir desse passo, será possível perceber quais são os efeitos negativos que essa mentalidade está provocando nos ambientes que você frequenta.
Passar a agir com mais consciência e literalmente “pensar mais lento” antes de realizar um julgamento ou associação já é um grande progresso. É necessário também esforço consciente, exercícios constantes, metas e estratégias para quebrar o hábito.
Já as corporações podem atuar em três frentes:
1. Capacitação: promover treinamentos para definir o que são, mostrar como se fazem presentes no dia a dia da empresa e quais são as consequências dos vieses inconscientes.
2. Regras: implementar políticas que pontuem e reprovem comportamentos inadequados baseados em estereótipos e vieses de gênero.
3. Promoção da verdadeira diversidade: a melhor forma de fazer com que uma equipe não faça julgamentos inadequados sobre a performance feminina, por exemplo, é trazendo mulheres para o time.
Além disso, criar um ambiente voltado para o empoderamento e a equidade também é essencial para essa transformação.
Para isso, indicamos a cartilha Princípios de Empoderamento das Mulheres para Startups, produzida pela WE Impact em parceria com a ONU Mulheres e Gema Consultoria, o material apresenta orientações e ações praticas que as empresas podem adotar para promover valores como diversidade, liderança e empoderamento feminino em todas as suas fases de desenvolvimento. Clique aqui para baixar.