Segundo o Instituto AnitaB.org, a força de trabalho feminina corresponde a 28,8% do total na área de tecnologia. O estudo, que analisou dados de mais de meio milhão de profissionais dos EUA em 51 empresas participantes, também identificou que nesse ritmo vamos precisar de mais de 10 anos para conquistar a equidade de gênero e a representatividade das mulheres na tecnologia.
Questões como a falta de profissionais capacitadas e dispostas a ingressar no setor são apontadas como justificativa para essa realidade; porém, os números indicam outro cenário: de acordo com a ATN – Associação Telecentro de Informação e Negócio, mais de 36 mil mulheres formadas na área buscam colocação. Já o Banco Nacional de Empregos – BNE revela que, somente entre janeiro e maio de 2021, foram registradas quase 12.800 candidaturas femininas no mercado de tecnologia.
Quando conseguem uma oportunidade, mulheres ainda enfrentam desafios impostos por conta do seu gênero, o que as tornam mais propensas a deixar a área nos primeiros anos em comparação com aquelas que não trabalham em STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática), de acordo com a Women In Tech Network.
Felizmente, inúmeras iniciativas com o propósito de mudar essa realidade estão surgindo, como a WoMakersCode, maior comunidade de mulheres na tecnologia da América Latina. A iniciativa promove capacitações, acesso ao mercado e protagonismo feminino no setor.
Para falar sobre o tema, compartilhar possíveis soluções para os desafios enfrentados pelas mulheres na tecnologia e a importância das comunidades nesse processo, convidamos a fundadora do projeto e Technology Strategist da Microsoft, Cynthia Zanoni.
Referência em tecnologia, a entrevistada também acaba de se tornar mentora WE Impact e, a partir de agora, vai apoiar as startups do nosso portfólio no seu desenvolvimento nesse pilar.
Confira, na entrevista:
O papel das comunidades no começo da carreira em tecnologia
Desafios das mulheres na tecnologia
Dicas para protagonizar na área
O começo da trajetória
Cynthia começou sua jornada profissional quando tinha mais ou menos 15 anos. Na época, fez seu primeiro estágio e criava sites para empresas da sua cidade com o objetivo de juntar dinheiro para estudar tecnologia.
Aos 17 anos, ela finalizou o ensino médio, ingressou em um curso técnico de informática e deu início à carreira de desenvolvedora. Foi nesse mesmo período que começou a participar de comunidades, especialmente as ligadas a Open Source e inovação.
“Sempre fui muito ligada a essas comunidades, e não só para ir a um evento, mas também como oportunidade de ouvir outros profissionais, aprender e saber o que estava acontecendo fora da minha bolha.”
Cynthia Zanoni, fundadora da WoMakersCode
Ela acredita que essa mentalidade ajudou a impulsionar sua carreira: “ser uma pessoa curiosa, que está sempre buscando experiencias, participando de eventos e iniciativas, foi o que me ajudou a crescer não só tecnicamente falando, mas também a me desenvolver como pessoa e profissional”, complementa.
Dentre os resultados dessa estratégia, estão os reconhecimentos conquistados pela profissional dentro do setor – como os prêmios Women To Watch, Extraordinary Americas e 50 hackers to Follow -, além de abrir portas para participar da fundação da Mozilla na América Latina e, mais tarde, ocupar seu primeiro cargo na Microsoft.
A criação da WoMakersCode
Foi da falta de referências femininas que Cynthia percebia na sua carreira, na faculdade e no trabalho que nasceu a WoMakersCode, em 2015.
Ela compartilha a história do seu primeiro dia de aula no curso de informática, que contava com cerca de 55 homens e apenas 5 mulheres. Na ocasião, o professor fez uma análise sobre quem conseguiria finalizar o curso e complementou com um comentário direcionado às alunas:
“Temos o curso de secretariado e de assistente administrativo aqui na escola. Se eu fosse vocês, eu não perderia o meu dinheiro aqui no primeiro semestre do curso técnico com informática. Eu já faria uma transferência agora, porque vocês não vão chegar até o final.”
A ideia de criar a ONG surgiu depois de mais um entre os inúmeros episódios de machismo como este que enfrentou durante sua trajetória. “Senti que era preciso montar alguma iniciativa que contribuísse para a transformação dessa mentalidade de que não existem mulheres na tecnologia! Dar a voz para que elas falem sobre o que são especialistas, tenham o direito de perguntar, de errar e de aprender”, afirma.
Foi aí que decidi criar a WoMakersCode. O próprio nome é um acrônimo de mulheres que fazem código. Mas o que é fazer esse código? Eu acredito que é descobrirmos e fortalecermos a nossa própria essência para dizer que, sim, somos mulheres profissionais, temos direito de estar nos espaços onde estamos e de reconhecer nossas conquistas.
Cynthia Zanoni, fundadora da WoMakersCode
Desafios das mulheres na tecnologia
Com toda a sua experiência, Cynthia identifica alguns dos desafios enfrentados pelas mulheres na tecnologia: a falta de uma mentalidade voltada para inclusão nas empresas, a disparidade salarial, a falta de planos para o desenvolvimento feminino dentro das corporações, o etarismo e a síndrome da impostora.
Mesmo ciente de que todos esses itens fazem parte do presente, ela também percebe um avanço se comparado a cerca de 15 anos atrás, quando começou sua trajetória. “Atualmente, existem movimentos como a WoMakersCode e a própria WE Impact que têm esse olhar para ajudar mulheres a vencerem essas questões e enxergarem uma oportunidade de se desenvolver”, comenta.
Para a especialista, projetos intencionais que visam promover essa mudança são vitais para a conquista da equidade de gênero.
“Estamos mais fortes e levando nossos projetos em frente! Eu acredito que existe espaço para todas, mas ainda precisamos construir muitas pontes para que esses espaços abertos dentro do mercado de tecnologia e inovação possam pertencer cada vez mais às mulheres.”
Cynthia Zanoni, fundadora da WoMakersCode
Protagonismo feminino na tecnologia
Para mulheres que desejam alcançar o protagonismo ao empreender ou em carreiras tech, Cynthia compartilha algumas dicas:
Esteja em movimento
O que se aprende em um curso formal não é suficiente para se transformar em uma pessoa profissional de tecnologia. A frequência com que surgem atualizações e ferramentas novas é muito grande, por isso, ela recomenda a busca constante por conhecimento e atenção às tendências do setor.
Há cerca de 15 anos, quando eu entrei na tecnologia, uma pessoa desenvolvedora ficava trabalhando sempre dentro de uma linguagem. Hoje, não basta saber uma linguagem de programação: é preciso também ter conhecimento sobre negócios, entender a experiência dos consumidores que vão utilizar a plataforma que está sendo desenvolvida… e, para isso, é imprescindível estar em movimento.
Cynthia Zanoni, fundadora da WoMakersCode
Busque referências dentro da área
Nesse quesito, ela chama a atenção para um ponto fundamental:
“Inspiração é diferente de transformar a trajetória daquela pessoa em uma régua para poder medir o seu próprio desenvolvimento. Inspiração é acompanhar e ajudar a impulsionar o trabalho de outra profissional”
Cynthia Zanoni, fundadora da WoMakersCode
E ainda destaca que você deve aprender com a experiência e conhecimento de outra profissional, mas sem se esquecer de que cada um tem a sua própria trajetória e acesso a oportunidades de diferentes níveis.
Faça networking
Para Cynthia, formar uma boa rede de contatos é tão importante quanto aprender as ferramentas mais inovadoras do mundo.
“Se eu não souber me comunicar com as pessoas, explicar para os outros sobre minha jornada ou compartilhar aonde eu quero chegar, eu não saio de lugar nenhum”, ela afirma.
Outro ponto essencial é entender que o networking é via de mão dupla: hoje uma pessoa vai te ajudar a se desenvolver e, amanhã, algo que você aprendeu vai contribuir com o caminho dela.
Não veja outras empreendedoras e profissionais como concorrentes
Mude sua mentalidade de “eu não vou comprar em determinado lugar porque amanhã ela pode se tornar minha concorrente” e comece a pensar: se criarmos uma comunidade onde todas as mulheres, de alguma forma, possam apoiar os seus respectivos negócios e carreiras, vamos todas mais fortes para o mercado.
“À medida em que se tornar mais comum ver mulheres como CTOs e CEOs de empresas de tecnologia, mais espaço, mais investimento, mais visibilidade e mais crédito nós vamos ter.”
Cynthia Zanoni, fundadora da WoMakesCode
A nova mentora WE Impact
A história da parceria da Cynthia com a WE Impact começou na Microsoft e se amplificou cada vez mais. Graças à nossa conexão com a grande empresa de tecnologia, da qual somos parceiras estratégicas e operacionais, tivemos a oportunidade de conhecer o seu trabalho dentro da corporação, e também à frente da WoMakersCode.
Da grande sinergia de propósitos, nasceu a nossa parceria com a ONG para fomentar a empregabilidade em mulheres na tecnologia, e a WE Impact agora conta também com toda a experiência da profissional para apoiar suas startups investidas!
Com mais de 10 anos de experiência em engenharia de software, liderança e estratégia de programas, Cynthia acaba de se unir à WE Impact Network como mentora do pilar Tecnologia do nosso Venture Management.
É assim que chamamos a etapa pós investimento, quando começa o nosso trabalho de desenvolvimento das startups fundadas e lideradas por mulheres que fazem parte do portfólio WE Impact. Nesse momento, realizamos um diagnóstico do atual cenário das startups, seus principais desafios e pontos de melhorias.
Em seguida, oferecemos mentorias específicas para ajudar a destravar processos e impulsionar os avanços das investidas. Além da tecnologia, também atuamos nos pilares Produto, Time, Receita e Diversidade & Liderança, focando no que realmente importa para levá-las ao sucesso.
Como fazer parte do nosso portfólio
Quer contar com o apoio de Cynthia e outros profissionais incríveis no desenvolvimento da sua startup? Então venha conosco!
Lembrando que ela precisa ser fundada e liderada por mulheres, atuar em modelo B2B e ter base tecnológica para estar apta a receber investimento, acompanhamento e outros benefícios.
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