De acordo com o IBGE, são 69 milhões de mães no Brasil, 31% das quais criam os filhos sozinhas. Essas mulheres guerreiras, muitas vezes, se veem na obrigação de equilibrar múltiplas responsabilidades: cuidar da família, manter a casa em ordem e, ao mesmo tempo, se destacar no ambiente de trabalho.
Essa estrutura social vem gerando inúmeros desafios para o bem-estar físico e mental de mães ou figuras parentais maternas. Um cenário tão comum que deu espaço para o surgimento de termos como Burnout Parental.
“Burnout Parental é um tipo específico de esgotamento emocional que afeta as figuras parentais maternas e paternas, devido ao estresse contínuo e à sobrecarga associada às responsabilidades parentais cotidianas.”
– Report Burnout Parental 2024, B2Mamy e Kiddle Pass
Inspirada por um estudo realizado pela Universidade de Ohio, a B2Mamy e a Kiddle Pass realizaram uma pesquisa sobre Burnout Parental no Brasil, baseada na realidade de 2.000 mães e cruzando outras interseções, como tipo de carreira, raça e número de filhos.
O estudo apontou dados como:
– 64% das mães entrevistadas relatam que sofreram o impacto da maternidade em suas carreiras e que fizeram ou pensaram em transição.
– apenas 19% das mães declararam que o pai é presente financeiramente e nos cuidados diários
– 21% As mães negras sinalizaram no estudo um esgotamento moderado a grave 21% a mais que as mães brancas
O principal achado da pesquisa foi que 9 a cada 10 mães sofrem com questões ligadas à exaustão emocional em relação ao cuidado com os filhos.
De acordo com o estudo, existem algumas ações que podemos adotar para que esses desafios sejam reduzidos ou encerrados:
– O setor privado percebe que a desigualdade de gênero e o burnout geram custos financeiros e reputacionais, sendo essencial investir em benefícios e políticas voltadas à parentalidade e promover ambientes de trabalho que valorizem a diversidade e a família.
– Os homens assumem suas responsabilidades pelo desenvolvimento integral dos filhos, compreendem os conceitos de masculinidade e paternidade ativa e reconhecem que a desigualdade de gênero também os afeta.
– A esfera pública passa a promover políticas pró-maternidade, com benefícios, infraestrutura, educação sobre planejamento familiar e incentivos fiscais para empresas apoiadoras.
Além disso, muitas empreendedoras estão utilizando tecnologia e inovação para gerar impacto positivo e empoderar outras mães e mulheres. Um exemplo inspirador é Dani Junco, CEO e fundadora da B2Mamy, a maior comunidade de mães do Brasil.
Sua missão é transformar mães em líderes e promover sua independência econômica por meio de educação, networking, saúde e bem-estar. Em entrevista ao blog da WE Impact, ela compartilha sua trajetória e oferece dicas valiosas para mães. Confira:
Como foi sua jornada até se tornar CEO da B2Mamy?
Eu já empreendia em 2015, trabalhando com grandes multinacionais farmacêuticas. Nesse período, engravidei ecomecei a questionar o mercado, as formas de trabalho e como as coisas acontecem para as mulheres. Me senti muito confusa e solitária ao tentar equilibrar a vida materna e profissional.
Em 2015, escrevi em uma rede social sobre essa dificuldade e lancei a ideia: “Vamos tomar um café?”. Eu esperava que 4 mulheres aparecessem, mas 80 vieram. Percebi que muitas outras mães estavam sentindo a mesma dor, mas não tinham onde conversar. A partir de 2015 até 2016, realizamos vários encontros para entender esse mercado e comecei a estudar a transição de carreira após a maternidade.
Nessa época, a B2Mamy já existia de forma orgânica. O nome já estava lá, mas era apenas um encontro de mulheres tentando descobrir como conciliar a vida profissional e materna. Em 2016, comecei a buscar formas de transformar essa ideia em um negócio.
Durante minha trajetória, ouvi que eu teria que escolher entre ser mãe e ser CEO, pois, caso contrário, seria uma péssima mãe e uma péssima CEO. Foi nesse momento que percebi que queria me tornar uma aceleradora. Como ninguém queria me acelerar, porque “era coisa de mulher”, eu faria isso.
Até 2019, éramos apenas uma aceleradora, mas começamos a perceber que nem todo mundo vai empreender, especialmente no setor de tecnologia, que é altamente arriscado. Após a pandemia, isso ficou ainda mais difícil para as mulheres. Então, além de acelerar negócios, começamos a oferecer cursos de formação em tecnologia e em áreas de alta empregabilidade para que as mulheres pudessem retornar ao mercado de trabalho.
A B2Mamy, que inicialmente era uma aceleradora, passou também a se tornar uma edtech focada em tecnologia. Em seguida, abrimos a Casa B2Mamy, o único hub de inovação family-friendly do Brasil.
A partir de 2019, nossa comunidade começou a crescer muito. Hoje, temos 100.000 mães na nossa plataforma. Nosso grande objetivo é, por meio de três pilares principais — educação, networking, saúde e bem-estar —, ajudar essas mulheres a conquistarem sua liberdade financeira, seja retornando ao mercado de trabalho ou empreendendo.
Como a tecnologia pode facilitar o dia a dia das mães empreendedoras?
A tecnologia é uma maneira melhor, mais rápida e mais barata de realizar algo que já está sendo feito, certo? Ao ser aplicada, a tecnologia visa alcançar ganhos operacionais ou de rentabilidade. Por isso, acho que é impossível empreender hoje sem falar de tecnologia.
Muitas vezes, a tecnologia parece algo distante, como uma tela preta e branca cheia de códigos, mas, na verdade, é uma ferramenta que pode ser usada de várias formas. O que fazemos aqui é entender o modelo de negócio de cada pessoa e como a tecnologia pode facilitar essa jornada. Na B2Mamy, ensinamos tecnologia do ponto de vista operacional, e não sob a ótica de algo super disruptivo que, no fim das contas, não resolve problemas reais.
Como você enxerga o papel das comunidades no mundo dos negócios?
A comunidade é uma tecnologia social, um jeito de realizar algo mais rapidamente. Tecnologia não é só codificar. Quando você está em uma comunidade, consegue consumir mais rápido, comprar mais rápido, encontrar novos fornecedores, achar um sócio ou uma sócia. É uma forma de cortar caminhos, validar melhor seu produto, encontrar o marketing fit, reduzir o CAC. Isso é uma tecnologia social, e é exatamente o que fazemos aqui na B2Mamy. Não consigo imaginar outra forma de fazer negócios hoje sem estar conectada a uma comunidade.
Eu tenho a minha própria comunidade, que lidero e nutro junto com o meu time, e também participo de outras. Acredito que essa seja uma das tecnologias sociais mais importantes que vem acontecendo.
Que conselhos você daria para mães que estão começando suas jornadas no empreendedorismo ou buscando crescimento em suas carreiras dentro do setor de tecnologia?
Acredito que precisamos fazer as pazes com o dinheiro. Para mim, a única liberdade verdadeira é a financeira, certo? Sem liberdade financeira, você não consegue agir com consciência. Então, devemos encarar o dinheiro de maneira séria: ser gentil com as pessoas e agressivo com os números, porque eles importam.
Como você vai gerar seu dinheiro? Quanto é necessário para atingir seus objetivos? Isso exige uma consciência que você precisa desenvolver.
A segunda dica é se conectar rapidamente a uma comunidade. Não precisa ser a minha — embora eu adoraria que fosse, e você será muito bem-vinda —, mas qualquer comunidade que faça sentido e te ajude a prosperar.
E, por último, cuide de você, da sua saúde, do seu corpo e da sua mente, para que você consiga cuidar de si mesma, da sua família, da sua empresa ou da sua carreira, caso esteja no mundo corporativo.
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