Garantir a diversidade na tecnologia é um dos principais fatores capazes de impulsionar a inovação e o desenvolvimento do setor. Ela gera novas perspectivas e repertórios, maior colaboração entre o time, um alto potencial de impacto e de conexão com os clientes.
Segundo o estudo “Getting to Equal 2019: Creating a Culture that Drives Innovation”, publicado pela consultoria Accenture, colaboradores de companhias que contam com diversidade e inclusão enxergam menos barreiras para inovar e são seis vezes mais criativos do que os concorrentes.
Porém, os índices de diversidade dentro das empresas de tecnologia não são nada animadores: segundo o IBGE, mulheres são apenas 20% dos quase 600 mil profissionais atuantes nesse mercado.
E a desigualdade se mostra ainda maior quando fazemos um recorte de cor. O Potências Negras Tec mostra que 59% das pessoas negras que atuam profissionalmente não estão na tecnologia e que, entre aquelas capacitadas ou em processo de capacitação, apenas 41% trabalham na área.
Essa é uma realidade preocupante, mas que pode e deve ser modificada. Atualmente, há muitos exemplos de pessoas que se identificam com as causas da diversidade, inclusão e igualdade de gênero e unem forças para lutar contra o racismo e a misoginia no setor.
Nesse artigo, vamos falar mais sobre os desafios da baixa representatividade e do preconceito na tecnologia e compartilhar os projetos de quatro mulheres que trabalham para promover a diversidade na tecnologia. Acompanhe:
Como o racismo estrutural se manifesta na tecnologia
Machismo e o afastamento das mulheres de áreas STEM
A busca pela diversidade na tecnologia
Como o racismo estrutural se manifesta na tecnologia
Um estudo da consultoria Atlassian apontou que 95% dos colaboradores de empresas de tecnologia nos EUA são brancos e 75% homens. Esse dado pode trazer uma das justificativas para o fato de que o algoritmo de reconhecimento facial tem dificuldade para identificar pessoas negras e mulheres: a falta de diversidade nos rostos mapeados e de ideias diferentes nos times de desenvolvimento.
Essa realidade cria situações como a enfrentada pela estudante de pós-graduação no MIT – Massachusetts Institute of Technology Joy Buolamwini: ao trabalhar em um projeto que se baseava em um software genérico de reconhecimento facial, ela, uma das poucas pesquisadoras que é mulher e negra da instituição, precisou utilizar uma máscara branca durante a fase de testes, já que o programa utilizado não identificava o seu rosto com a sua cor e traços reais.
Joy criou a Algorithmic Justice League, uma organização para tornar o mundo da tecnologia mais ético e inclusivo, e já foi premiada pelo Women’s Media Awards por suas contribuições na explicação do olhar codificado e seu impacto na igualdade de gênero. É possível entender mais sobre as descobertas da pesquisadora na série Coded Bias, disponível na Netflix, ou no TED “Como eu luto contra o preconceito em algoritmos”, que já conta com mais de 1 milhão de visualizações.
“Tal como o preconceito humano, o olhar codificado resulta em desigualdade. Mas os algoritmos, assim como os vírus, podem espalhar o viés em grande escala e rapidamente”
Joy Buolamwini – TED
Já aqui no Brasil, a empresária, jornalista e fundadora do Desabafo Social Monique Evelle também percebeu que, ao pesquisar termos como “pessoa”, “pele”, “bebê” e “família” em grandes bancos de imagens, quase todas as imagens mostradas eram de pessoas brancas. Daí, surgiu a Campanha Busca Pela Igualdade, criada em 2017 para mobilizar a população e as empresas sobre esse padrão, e que conseguiu influenciar o funcionamento de dois bancos de imagens: o Shutterstock alterou seu mecanismo de busca e o Depositphotos começou a estudar formas de mudar algoritmos globalmente.
Machismo e o afastamento das mulheres de áreas STEM
A desigualdade de gênero é outro desafio que contribui para os baixos índices de diversidade na tecnologia. Para se ter uma ideia, até mesmo no marketing digital, única área em que as mulheres são maioria com 54% de ocupação, a presença feminina em cargos de liderança, o equivalente a 43%, ainda é menor do que a dos homens, segundo um levantamento da Revelo, startup de recrutamento e seleção de profissionais de tecnologia na América Latina.
Em Inteligência Artificial (IA), uma das áreas nobres do mundo tecnológico, a representatividade feminina é ainda menor: mulheres representam só 15% da equipe de pesquisa de IA no Facebook e 10% no Google, de acordo com dados do estudo Discriminating System do AI Now Institute, da Universidade de Nova York, publicado em 2019.
Mas nem sempre foi assim. As mulheres foram pioneiras na informática, por exemplo. Quando os computadores realizavam apenas cálculos e processamento de dados, eles eram utilizados basicamente pelas mulheres que exerciam a função de secretárias. Nem todas ficaram restritas ao trabalho usual e muitas delas se empenharam em desenvolver máquinas e programas.
Na história, existem grandes exemplos de contribuições femininas para a área: Ada Lovelace, conhecida como a primeira programadora de computador do mundo; Margaret Hamilton, criadora do termo Engenharia de Software e responsável pelo programa que levou o Apollo 11 a lua e Donna Dubinsky, responsável pelo lançamento do do Palm Pilot, primeiro assistente digital pessoal que antecedeu os smartphones.
Junto com o avanço das tecnologias, forame avançando também as diferenças de gênero na educação, os vieses na criação e os estereótipos que reforçam a ideia de que as mulheres não possuem aptidão para carreiras STEM (Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática).
A luta pela diversidade na tecnologia
Nadando contra essa corrente, surgem ações que trabalham para que o setor mais promissor da economia mundial passe a contar com mais equidade. A WE Impact se junta a elas com a missão de ajudar mulheres empreendedoras a construírem startups tecnológicas, escaláveis e globais.
Nós preparamos uma lista de mulheres que, mesmo diante das diversas desigualdades impostas pela sociedade, pelo ecossistema e pelo mercado de trabalho, se destacam por sua atuação no mercado de tecnologia e no combate ao racismo e ao machismo nessa área.
Elas criaram iniciativas voltadas para a democratização de serviços e direitos, ascensão da carreira e empoderamento que já fizeram e continuam fazendo a diferença na vida de muitas pessoas que integram esses grupos minorizados. Confira:
Fernanda Ribeiro
Presidente da Associação AfroBusiness e co-fundadora e CCO da Conta Black, participou da criação de uma comunidade financeira que, através de uma conta digital, se propõe a democratizar o acesso a serviços bancários. Ela também é líder de diversidade da Associação Brasileira de Fintechs, embaixadora da Rede Ibero Americana de Mulheres em Fintech e mentora da Black Rocks Startups.
Itala Herta
Cofundadora da Vale do Dendê, primeira aceleradora de negócios com foco em diversidade do Nordeste, e cocriadora do portal e festival Ocupação Afrofuturismo, projeto de entretenimento com temas de futurismo, cultura digital e tecnologias das periferias. Além disso, é fundadora da Diver.SSA, iniciativa para fomentar o empreendedorismo feminino de impacto social por meio da tecnologia, inovação, conexões e educação.
Andreza Rocha
CEO e fundadora da AfrOya Tech Hub , uma iniciativa afro futurista global de projetos e diversidade voltados para a inserção, desenvolvimento, ascensão e pertencimento de talentos negros no ecossistema de tecnologia e inovação.
Priscila Gama
Arquiteta e fundadora da Malalai, uma startup que desenvolve tecnologia para a segurança pessoal feminina em três frentes: prevenção, com o mapeamento colaborativo de rotas seguras; conforto cognitivo, com a criação de companhia virtual; e hardware para ser acionado em casos de emergência.
Outra formas de combater a desigualdade e garantir a diversidade na tecnologia é entendendo sobre boas práticas para garantir a equidade nas empresas, aprender a realizar contratações de uma equipe diversa e inclusiva e conhecer mecanismos práticos para promover o empoderamento feminino na sua startup.
Mais uma ferramenta que pode te ajudar é a WE Impact News, nossa newsletter colaborativa repleta de conteúdos sobre o mundo dos negócios, ecossistema de startups e tecnologia. Nela, compartilhamos casos e iniciativas inspiradoras de apoio à diversidade, análises sobre os principais estudos e pesquisas do mercado, insights sobre liderança feminina, boas práticas de inclusão e diversidade no ecossistema e na sociedade. Clique aqui para assinar.