Os Princípios de Empoderamento das Mulheres (também chamados de WEPs, da sigla em inglês para Women’s Empowerment Principles) foram lançados em 2010 pela ONU Mulheres e pelo Pacto Global da ONU. Desde então, mais de 5.000 empresas, em 141 países, representando coletivamente mais de 10 milhões de funcionárias e funcionários, já se comprometeram com essa pauta ao assinar os Princípios.
Já entre empresas que se encaixam na definição de “startups”, que se caracterizam, principalmente, pelo seu grande foco em crescer e escalar rapidamente, a representatividade entre assinantes dos WEPs é bem menor.
A estrutura e mentalidade específicas das empresas do ecossistema de tecnologia, bem diferentes das tradicionais, pode levar empreendedores a acreditarem que não há espaço, tempo ou recursos para pensar em empoderamento feminino, diversidade e inclusão nesse momento de construção do negócio.
Porém, o que estudos mostram é introduzir tais valores no DNA de uma startup desde o início impulsiona sua capacidade de desenvolver soluções inovadoras, conquistar novos mercados e públicos consumidores, além de gerar impacto positivo na economia.
Pensando nisso, e reconhecendo da importância de adaptar essas práticas para a linguagem das startups para conseguir impulsioná-las nesse mercado, a WE Impact se uniu à ONU Mulheres e Gema Consultoria em Equidade para criar a cartilha Princípios de Empoderamento das Mulheres para Startups, lançada em julho do ano passado.
O material detalha ações para que qualquer startup, independentemente da fase – seja ideação, validação, tração ou escala -, possa adotar facilmente os WEPs. Até o momento, o material já impactou mais de 500 pessoas.
Um ano depois de lançar o conteúdo, oquais foram os aprendizados do time criador da cartilha? Quais são os próximos passos nesse movimento? Isso é que vamos te contar neste artigo! Confira:
Por que envolver as startups nesta pauta?
A importância da governança para o empoderamento feminino
Criando um ecossistema mais humanitário
Empodere mulheres na sua startup
Conhecendo os WEPs
Os WEPs são uma poderosa ferramenta para promover a equidade de gênero e empoderamento feminino no mercado corporativo.
A iniciativa é baseada nos padrões internacionais de trabalho e de direitos humanos, e têm como diretriz o reconhecimento de que as empresas também são responsáveis e desejam uma sociedade mais justa e igualitária.
A ideia central é que esses 7 princípios funcionem como um guia para implementar ações que impulsionam o empoderamento feminino dentro de empresas de todos os portes e segmentos de atuação.
Saiba o que diz cada um deles:
– Princípio 1: Estabelecer liderança corporativa de alto nível pela igualdade de gênero
– Princípio 2: Tratar todas as mulheres e homens de maneira justa no trabalho – respeitar e apoiar os direitos humanos e a não discriminação
– Princípio 3: Garantir a saúde, a segurança e o bem-estar de todos os trabalhadores e trabalhadoras
– Princípio 4: Promover a educação, o treinamento e o desenvolvimento profissional das mulheres
– Princípio 5: Apoiar o empreendedorismo feminino e promover políticas de empoderamento das mulheres por meio das cadeias de suprimentos e do marketing
– Princípio 6: Promover a igualdade de gênero por meio de iniciativas voltadas à comunidade e ao ativismo social
– Princípio 7: Medir, documentar e publicar os progressos para alcançar a igualdade de gênero
Por que envolver as startups nesta pauta?
A gerente de projetos da ONU Mulheres, Daniele Godoy, descreve os Princípios de Empoderamento das Mulheres como uma forma de traduzir a agenda global dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável de uma forma transversal sob a ótica do gênero. “A ideia é alcançar os ODS sem deixar nenhuma mulher e nenhuma mulher diversa para trás”, afirma.
Ela comenta também sobre o papel das startups para o alcance e disseminação dessa agenda.
Não importa o estágio de desenvolvimento da discussão da igualdade de gênero dentro da sua startup. O que importa é que essa pauta permeie toda a sua estratégia e construção de valor, não só em torno do produto que você oferecer, mas também no seu papel dentro de uma sociedade, dentro de uma comunidade, dentro do ecossistema do qual faz parte.
Daniele Godoy, gerente de projetos da ONU Mulheres
Além disso, a mentalidade focada no crescimento rápido faz das startups fortes candidatas a se tornarem as grandes empresas do futuro. Elas criam novos empregos, desenvolvem talentos e originam investimentos diretos.
Da mesma forma que promovem rapidamente a inovação, desenvolvimento econômico e novas tecnologias, também têm potencial de acelerar a promoção da equidade de gênero e do empoderamento feminino na nossa sociedade.
Ao estimular a liderança e o empreendedorismo feminino nesse ecossistema, contribuímos para o aumento da representatividade feminina na tecnologia, para a redução da disparidade salarial entre homens e mulheres e de outros GAPs que as afastam da emancipação econômica.
Além disso, levar em consideração a diversidade, a inclusão e a interseccionalidade abre espaço para a alcançarmos a inovação real.
Isso porque, em um mercado ainda dominado por homens de uma mesma etnia, histórico profissional e classe social semelhantes, é muito mais difícil que o desenvolvimento de soluções alcance de forma efetiva os interesses e necessidades de quem não faz parte deste grupo.
Quando mudamos esse cenário, iniciamos uma grande transformação que acaba sendo positiva para todas e todos.
A importância da governança para o empoderamento feminino
Adriana Vojvodic, uma das sócias fundadoras da Gema Consultoria em Equidade, afirma que algumas das principais ações para promover a diversidade e inclusão dentro de uma empresa são:
– elaboração de diagnóstico interno,
– criação de políticas antiassédio e antidiscriminatórias
– treinamentos e comunicações
– promoção de canais de escuta,
E ela avalia que são as empresas com alta maturidade de governança as que têm maior facilidade para promover esses tipos de ações.
“As startups, principalmente aquelas em fase de ideação, ainda estão desenvolvendo suas estratégias de governança, e esse pode ser um desafio para a implementação dos Princípios de Empoderamento das Mulheres nesses ambientes”, opina.
Diante disso, ela ressalta a importância da nossa cartilha para garantir o protagonismo do ecossistema de tecnologia e inovação nessa jornada: “O material estabelece metas e possibilidades de ferramentas de equidade que consideram as características das startups, e não são simplesmente indicadas apesar dessas características”, afirma Adriana.
A fundadora chama a atenção também para o desemprego e outros desafios que se intensificaram na realidade feminina devido à pandemia. Uma análise realizada pelo Ministerio do Trabalho mostrou que cerca de 96% dos 480 mil postos com carteira assinada perdidos em 2020 eram ocupados por mulheres.
Para ela, ao pensarmos em ações voltadas para a equidade de gênero e empoderamento feminino, é extremamente importante levar em consideração o momento histórico em que estamos vivendo.
Ao falar de 2022, um momento pós pandemia, não podemos desconsiderar que as mulheres tiveram suas carreiras prejudicadas! Segundo o IBGE, menos da metade da população feminina em idade para trabalhar está empregada atualmente. Diante desse cenário, as startups podem fazer a diferença ao contribuir com a reinserção dessas mulheres no mercado.
Adriana Vojvodic, sócia fundadora da Gema Consultoria em Equidade
Criando um ecossistema mais humanitário
Segundo dados do Fórum Econômico Mundial, em 2019, a expectativa para alcançar a equidade de gênero em oportunidades e participação econômica era de 100 anos. Em 2020, este número subiu para 267 anos, afetado significativamente pelo retrocesso nos direitos e acesso a oportunidades sofrido pelas mulheres durante a pandemia. Já os dados referentes a 2022 indicam uma nova previsão de de 150 anos.
“Pode parecer que tivemos um grande avanço, mas continuamos precisando de mais tempo agora do que em 2019. Vamos ter uma geração inteira impactada por esse período”, alerta Lícia Souza, CEO da WE Impact.
Ela ressalta, diante desse cenário, a relevância e a urgência em se criar instrumentos para impulsionar a equidade de gênero e o empoderamento feminino em nossa sociedade. E convidar fundadoras e fundadores de startups a voltarem seus olhares para a humanização e para a geração de impacto positivo.
Na visão da CEO, o ecossistema de tecnologia e inovação segue a lógica do desenvolvimento de um produto digital, mas é importante entender que, quando você está empreendendo, não está criando apenas um produto. “A definição da palavra startup é ‘em busca de um modelo de negócios’, mas a busca por um modelo de negócios sempre vai envolver pessoas”, reflete.
Quem empreende não entrega só um produto digital. A solução aqui é realmente trazer as pessoas para o centro desde o início. São as pessoas que constroem esse produto digital, as pessoas que o consomem… no fim das contas, é tudo sobre pessoas.
Lícia Souza – Fundadora e CEO da WE Impact
Empodere mulheres na sua startup
Para continuar avançando nesse tema e promovê-lo em sua startup, você pode baixar a nossa cartilha baseada nos WEPs – Women’s Empowerment Principles.
O material apresenta orientações e ações práticas que as empresas possam adotar para promover esses dois valores em todas as suas fases de desenvolvimento.
Outro conteúdo relevante é a gravação do evento 1 ano da cartilha WEPs para startups, realizado em julho de 2022. Nele, você tem acesso gratuito a outros insights e dicas do time criador da cartilha que participou deste artigo, além de cases de sucesso e experiências reais de líderes de startups que já estão implementando os Princípios.
Assista a esse super bate papo sobre empoderamento feminino, gênero, diversidade, inclusão e interseccionalidade clicando no link.