O ecossistema de investimentos em startups ainda é dominado por homens. Para se ter uma ideia, em duas das principais fontes de capital disponíveis nesse universo, a representatividade de gênero ainda é baixíssima: dados da International Finance Corporation na América Latina mostram que somente 8% dos fundos de Private Equity e Venture Capital têm mulheres investidoras na liderança, enquanto um levantamento da Anjos do Brasil aponta participação feminina entre investidores anjo de apenas 14%.
Essa desigualdade de gênero no ecossistema afeta diretamente no tratamento e nas oportunidades que as empreendedoras recebem na busca por capital. O Harvard Business Review mostrou que mulheres receberam, em média, 25% do montante requerido em rodadas de investimento, enquanto a média entre os homens é de 52%.
Outra pesquisa publicada pela mesma fonte mostrou evidências de que estereótipos de gênero influenciam as perguntas que investidores fazem ao público feminino e masculino à frente de seus negócios, o que pode gerar resultados desiguais mesmo que o potencial de negócio seja semelhante.
Para mudar essa realidade, alguns integrantes do ecossistema de investimentos estão cada vez mais engajados em promover a diversidade e adicionar as lentes de gênero em suas ações. É o caso do BR Angels, novo parceiro que se uniu à WE Impact na busca de startups com liderança feminina. Conversamos com Amanda Andreone, uma das mulheres investidoras anjo do grupo, sobre os seguintes temas:
O aumento gradual das mulheres investidoras
A importância do ESG e da diversidade
A parceria entre a WE Impact e o BR Angels
O aumento gradual das mulheres investidoras
Mesmo a passos lentos, é possível observar uma evolução no número de mulheres investidoras. Segundo o ranking “Top Women Investors in Latin America Tech”, da Associação Latino-Americana de Private Equity & Venture Capital (Lavca), entre 117 investidoras que se destacam na região, cerca de um terço está baseada no Brasil. A partir desse levantamento, foi possível observar um crescimento de 15% na comparação com 2020. Em relação a 2016, quando a 1ª lista foi feita, o salto é ainda mais expressivo: 216%.
Amanda é uma das mulheres que faz parte do aumento da representatividade feminina nesse ecossistema. Ela se associou ao BR Angels há pouco mais de um ano , enquanto começava a entender mais sobre inovação, tema que considera extremamente importante: “vale a pena explorarmos a inovação, independente da área de atuação de cada um. Conseguimos tirar muitos aprendizados e ideias dela, não somente para empreender ou para realizar aportes, mas para refrescar um pouco o nosso olhar para os negócios”, explica.
Hoje, a investidora é co-líder do Grupo SMART de Diversidade e ESG e Board Advisor da startup Musii, uma das investidas do BR Angels. Mesmo ciente da baixa representatividade, ela se sente otimista com os números e com a realidade do ambiente em que está inserida: “as mulheres vêm conquistando espaço e crescendo em números, estamos começando a entender que é possível participar de outros lugares além dos que a sociedade em algum momento da história nos impôs… Estamos no caminho para isso! Eu percebo isso no BR Angels. Me associei há mais de um ano e, nesse tempo, outras colegas vão se juntando a nós”, relata.
A importância do ESG e diversidade
Parte do grupo de mulheres investidoras e com sua experiência mentorando as startups no Grupo SMART de Diversidade e ESG, Amanda fala também sobre a importância desses dois itens para uma captação e para o retorno do aporte realizado.
“Claramente, os investidores e investidoras estão se atentando cada vez mais aos indicadores de ESG. É uma questão simples: uma startup com uma boa governança se importa com a transparência, com a ética, possui um código de conduta estabelecido, promove a diversidade e faz bom uso dos recursos. “
Amanda Andreone – Investidora-anjo no grupo BR Angels
Ela explica que quem tem o poder de decisão sobre o aporte não gosta de correr um risco desnecessário: “risco é bom! É legal quando a gente encontra um negócio super diferente e aposta que ele trará bons dividendos. Por outro lado, ninguém quer colocar dinheiro em algo que está fadado a dar errado. Além disso, não quero meu nome associado, por exemplo, a uma empresa que não tem ética ou que usa de práticas inadequadas para obter algum tipo de vantagem”.
A investidora reforça a importância de uma startup ter práticas de governança bem estabelecidas, porque isso será essencial para tomar ações que voltem a colocar o negócio nos eixos em casos de desafios na execução do plano ou no surgimento de alguma variável que influencie a apresentação de resultados.
“Uma startup que tem a governança no seu DNA tem maior facilidade em definir estratégias para resolver situações como essas, sem falar que a liderança terá a transparência de informar a quem investiu quais atitudes foram tomadas: eu vou abandonar esse produto e vou pivotar, vou criar uma nova versão, modificar“
Amanda Andreone – Investidora-anjo no grupo BR Angels
Sobre a WE Impact e o BR Angels
O BR Angels é um grupo de investidores anjo que reúne mais de 150 CEOs, executivos e executivas de grandes corporações. A iniciativa surgiu em 2019 para promover capital financeiro, intelectual, experiência e networking dentro do ecossistema empreendedor e impacta cerca de 6 mil startups por ano.
A WE Impact, primeira venture builder dedicada a mulheres líderes de startups, também foi fundada em 2019 e, desde então, já investimos mais de R$ 1,5 milhão no empreendedorismo feminino tecnológico, impactando a vida de mais de 100 mulheres que fazem parte desse ecossistema.
Nosso modelo de investimento vai além do capital financeiro: entre os recursos que compartilhamos, está o capital estratégico, uma rede exclusiva de mentores e conexões com grandes corporações (Micrososft, Flex, KPMG, Multilaser, Porto Seguro, Grupo Sabin e Magnamed) que auxiliam as startups durante a validação das soluções, desenvolvimento de produtos e acesso ao mercado.
Aplicamos também suporte hands-on em 5 pilares: tecnologia, produto, time, receita e diversidade, para apoiar o crescimento das startups do portfólio e prepará-las para as próximas rodadas de captação. Ao final de todo o processo, as integrantes do nosso portfólio estão preparadas para os próximas rounds de investimentos e pré-qualificadas para receber aporte do WE Ventures, fundo de Corporate Venture Capital 100% destinado a investimentos em mulheres na tecnologia.
A parceria com o BR Angels, grupo que também preza pelo smart money, é voltada para o coinvestimento, tendo o objetivo de potencializar o acesso a capital para negócios tecnológicos administrados por mulheres.
Se você você está em busca de investimento, cadastre os dados da sua empresa neste formulário.
Para ser elegível a participar do processo de avaliação para receber um aporte, a startup deve ter fundadoras e/ou líderes mulheres, base tecnológica e atuar em modelo B2B (oferecer soluções voltadas a outras empresas).