Empresas com liderança feminina têm resultados até 20% melhores, de acordo com a ONU, e maior potencial de gerar lucros para seus investidores, segundo a consultoria BCG. Além disso, 52% das companhias com ao menos uma mulher em cargo de chefia pontuam melhor em índices ESG, fator que, junto com a diversidade, se torna cada vez mais decisivo para a avaliação dos stakeholders.
No ecossistema empreendedor, o potencial das mulheres fundadoras também chama a atenção.
Segundo um estudo do SEBRAE em parceria com a FVG, elas possuem maior capacidade de se adaptar e criar em momentos de crise: no início da pandemia de COVID-19, demonstraram muito mais rapidez e facilidade em aderir às vendas online e ofertar novos produtos e serviços de acordo com normas do isolamento social.
Nesse cenário, 11% das empreendedoras inovaram em seus negócios durante a crise sanitária, enquanto 7% dos homens não fizeram mudanças.
Quando o assunto é empreender em tecnologia, as mulheres têm menor representatividade, mas se destacam na luta pela diversidade e pela promoção de impacto positivo.
Informações da primeira edição do estudo “Female Founders Report”, realizado pelo Distrito em conjunto com a B2Mamy e a Endeavor, mostram que a liderança feminina dentro do setor pode gerar ambientes com resultados 25% melhores.
Em suma, com mulheres ocupando cargos de tomada de decisões, há um progresso tanto em grandes corporações quanto no ecossistema de startups. Porém, estudos recentes mostram que ainda estamos longe da equidade e que é preciso dar mais atenção a pontos importantes como políticas formais, metas bem definidas, ações de estímulo, apoio e desenvolvimento, e realizar um trabalho que combata vieses inconscientes e estereótipos de gênero.
Analisando os relatórios Mulheres na Liderança, Empreendedorismo Feminino: O VOO DELAS e o Female Founders Report, elaboramos um panorama sobre a liderança feminina nesses espaços. Confira:
O dia a dia e os desafios do empreendedorismo
Fundadoras de startups com base tecnológica
Continue mudando essa realidade
Liderança feminina nas corporações
O tema equidade é citado como prioritário na agenda de 65% dos CEOs, e quase 60% pretendem adotar uma política formal para a promoção desse valor – um crescimento de 17 pontos percentuais em relação a 2019.
Esses números são do relatório Mulheres na Liderança 2021, que analisou 138 empresas de médio e grande porte e destaca como a ascensão da agenda ESG nas organizações brasileiras está contribuindo para o surgimento de métricas mais claras e ações planejadas para promover as mulheres à liderança.
O estudo, do Valor, O GLOBO, Época Negócios e Marie Claire junto com a ONG Women in Leadership in LatinAmerica (WILL) e o Instituto Ipsos, aponta outro ponto positivo: nos últimos dois anos, o número de companhias com orçamento específico para cuidar da estratégia de diversidade cresceu 25%.
A gerente de public affairs & corporate reputation na Ipsos Brasil, Priscilla Branco, ressalta que a pandemia trouxe um foco maior para a discussão do “S” do “ESG”, e uma maior cobrança de funcionários, cidadãos e investidores para que as empresas respondam a demandas sociais envolvendo diversidade e racismo: “com isso, vimos o incremento significativo de empresas com áreas específicas para endereçar de forma mais concreta a inclusão de mais mulheres, e de mulheres de vários grupos diferentes”, afirma.
As empresas que se destacaram mais positivamente na pesquisa foram as que apresentam metodologia de análise de métricas, recrutamento, programas de desenvolvimento e planejamento sucessório voltados para a promoção da diversidade.
O que ainda precisa ser feito
Mesmo com algumas evoluções, o relatório conclui que, em geral, é preciso haver mais ações concretas e metas voltadas para o desenvolvimento da liderança feminina, canais de escuta e uma verdadeira paridade.
Para se ter uma ideia, somente 36% das empresas possuem um programa de treinamento da liderança feminina alinhado a um plano de carreira, e apenas 41% têm metas que visam equilibrar o número de homens e mulheres nas diretorias e vice-presidências.
Dois terços das empresas pesquisadas disseram não ter políticas que estimulem a participação de mulheres em conselhos de administração, e somente 9% estabeleceram uma meta de percentual mínimo que pretendem alcançar para equilibrar com o número de homens.
Na pesquisa, apenas 34% das companhias afirmaram ter um comitê para analisar a remuneração variável dos funcionários e investigar possíveis discrepâncias entre gêneros.
O dia a dia e os desafios do empreendedorismo
A principal motivação para uma mulher se tornar dona de um negócio é a “busca pela autonomia e flexibilidade”. Na ordem, são citados também “satisfação por ver que o esforço gera resultado” e “realização de um sonho”.
As informações são da pesquisa “Empreendedorismo Feminino: O VOO DELAS/ 2021”, produzido pelo Aladas e pelo Sebrae com o objetivo de explorar o dia a dia e os desafios das mulheres ao gerirem seus negócios, considerando a data do surgimento do empreendimento (antes e pós-pandemia).
A pesquisa contou com entrevista de mais de mil micro e pequenas empreendedoras de São Paulo entre outubro e novembro do ano passado, coletando dados de empresas estabelecidas (constituídas até fev/2018), iniciais pré-pandemia (constituídas entre mar/2018 até fev/2020) e iniciais pandemia (constituídas entre mar/2020 e set/2021).
As respostas mostram que desenvolver habilidades de gestão e empreendedorismo está se tornando uma pauta recorrente na trajetória dessas fundadoras. Durante um mês, as líderes de empresas iniciais na pandemia dedicaram cerca de 25,7 horas à capacitação; seguidas pelas estabelecidas, com 23,5 horas; e pelas iniciais pré-pandemia, com 19 horas.
Independentemente do período, as mulheres se sentem cada vez mais preparadas em relação às habilidades socioemocionais como iniciativa própria, comunicação, criatividade, liderança feminina, negociação e pensamento analítico – mas ainda não se consideram totalmente prontas para chefiar um negócio.
Por outro lado, uma das principais competências emocionais presentes é a persistência: cada vez menos empreendedoras consideram desistir como uma opção. “Lutar por um sonho”, “dar continuidade ao que já foi construído” e “questões financeiras” são os principais motivos que encorajam essa decisão.
Desafios
Mesmo com a crescente na busca por desenvolvimento técnico e a persistência, algumas questões apontadas no relatório podem prejudicar o desempenho dos negócios chefiados por mulheres:
- Sobrecarga de trabalho e responsabilidade: o público feminino segue sendo responsabilizado pela maior parte dos afazeres domésticos, situação que foi acentuada durante a pandemia.
- Dificuldade em realizar captações externas: recursos próprios, seguindo da contribuição de parentes, são as principais fontes de capital utilizadas pelas mulheres ao abrir uma empresa.
- Baixa representatividade: a predominância de mulheres brancas no empreendedorismo nos faz refletir sobre a necessidade de se promover iniciativas voltadas para a inclusão e de igualdade racial dentro do ecossistema.
Fundadoras de startups com base tecnológica
Trazendo a análise para as startups brasileiras, o Female Founders Report tem o objetivo de responder às dúvidas e entender os impactos da desigualdade de gênero nesse mercado.
Uma das primeiras questões apontadas no estudo é o gap de diversidade no ecossistema de tecnologia e inovação: apenas 4,7% das startups são fundadas exclusivamente por mulheres, um número quase 20 vezes menor do que as fundadas somente por homens.
Entre as startups fundadas e com participação feminina no quadro societário, as fashiontechs, seguidas por startups de RH e Gestão de Pessoal, Negócios Sociais e Alimentação, saem na frente. Já quando a análise é voltada apenas para o número de fundadoras pelo setor de atuação, as áreas de saúde, educação, serviços financeiros apresentam os maiores números de mulheres na liderança.
Mais de 50% dessas empresas estão em fase de estruturação do MVP (produto mínimo viável) ou início de operação, cerca de 80% possuem até 20 funcionários e a maioria oferece soluções B2B.
Quando o foco é o perfil das (co)fundadoras, o destaque fica para a baixa diversidade: a composição étnico racial é composta principalmente por mulheres brancas (76,7%) seguidas das pardas (13,3%), pretas (5,8%), amarelas (3,0%) e indígenas (0,5%). Em relação à orientação sexual, quase 90% das fundadoras afirmaram ser heterossexuais.
Quando falamos em liderança feminina nesses ambientes, o principal motivo que levam as mulheres a entrarem no ecossistema de tecnologia e inovação é “Conhecer muito do mercado/solução e saber que é possível inovar/fazer melhor”, “ter uma ótima ideia e querer pôr em prática”, “seguir valores como vocação, missão, propósito, liberdade e paixão” e/ou “ser inspirada pela trajetória de outros(as) empreendedores(as)”.
Desafios da captação de investimentos
Mais de 30% das mulheres líderes de startups já tentaram ou participaram de um processo de captação. Os motivos que levaram cerca de 70% a não dar início a essa etapa foram: já ter capital suficiente (25%), não ter conhecimento sobre (15%) e a pretensão de dar início à busca por investimentos somente no futuro (58%).
O relatório aponta a desigualdade de gênero na indústria de Venture Capital como um desafio enfrentado por elas nesse processo, alimentando vieses como o de similaridade: que pode acontecer quando nos deparamos com pessoas com quem temos características, preferências ou histórias em comum.
Essa situação influencia diretamente a nossa assertividade na tomada de decisões e avaliação de pessoas, pois a tendência é de relevar pontos que merecem atenção e hipervalorizar os aspectos que são similares.
Nesse contexto, os investidores, que são, em sua maioria, homens, serão mais propensos a investir ou favorecer fundadores do mesmo sexo, reforçando as desigualdades.
A discrepância no ticket médio é um exemplo disso: em rodadas Anjo, a média recebida por startups com fundadores homens é duas vezes maior. Já soluções com apenas mulheres fundadoras chegam a receber apenas 1/5 do ticket médio do ecossistema na Série B (captação de recursos com o propósito de expandir o negócio).
Continue mudando essa realidade
Conseguimos observar a evolução da liderança feminina e dos espaços que as mulheres ocupam nas corporações, no empreendedorismo geral e no empreendedorismo em tecnologia, mas relatórios recentes ainda demonstram grandes casos de preconceitos e desigualdade de gênero.
A cartilha “Princípios de Empoderamento das Mulheres para Startups”, produzida pela WE Impact em parceria com a ONU Mulheres e a Gema Consultoria em Equidade, mostra como as organizações e integrantes do ecossistema empreendedor podem impulsionar valores como igualdade de gênero, diversidade, liderança e empoderamento feminino.
O material apresenta posicionamentos, ações práticas e mecanismos concretos que podem ser adotados para a implementação dos 7 Princípios de Empoderamento Feminino (WEPs) da ONU. Clique e baixe gratuitamente.