Depois de um 2021 marcado por recordes mundiais nos investimentos de Venture Capital, este ano mostra um cenário bem mais tímido e desafiador para as startups. Crises nas ações de big techs, cortes de gastos, mudanças de planos e demissões em massa nos unicórnios estão gerando especulações sobre uma crise no ecossistema e uma grande mudança na dinâmica do Venture Capital.
Títulos como “a fonte do VC secou?” e outros parecidos têm inundado as manchetes dos sites de notícias do mercado de tecnologia. De acordo com um levantamento da KPMG, os investimentos em Venture Capital no Brasil caíram 42% no primeiro trimestre de 2022, influenciados, entre outros fatores, pela alta da inflação e dos juros.
Considerando o contexto macroeconômico atual, não se pode negar que o Venture Capital mudou sim. Mas, conhecendo a realidade desse ambiente para mulheres empreendedoras nos últimos anos, também não podemos deixar de questionar: mudou para quem?
As mulheres e o Venture Capital
Como já comentamos, o último ano foi marcado por recordes do Venture Capital. Foram mais de US$ 621 bilhões investidos em startups globalmente, e a onda positiva aconteceu também a nível nacional.
No Brasil, foram registradas 824 rodadas e cerca de US$ 9,8 bilhões investidos em startups. Esse valor foi 2,5 vezes maior do que o aplicado em 2020, segundo dados do Distrito, para se ter uma ideia.
Mesmo nesse período de aportes bilionários e saldos positivos, o cenário não se mostrava tão próspero para as mulheres fundadoras de startups.
Dados do Crunchbase mostram que nem um centavo dos R$ 4,4 bilhões investidos em startups (incluindo rodadas seed, Venture Capital e Corporate Venture) na América Latina em 2020 foram destinados a empresas fundadas apenas por mulheres.
Já em 2021, o empreendedorismo feminino acessou apenas 2,2% do capital mundial destinado a investimentos de risco.
Com baixíssimo acesso ao capital externo, essas empreendedoras contaram principalmente com recursos próprios e a contribuição de parentes para impulsionar seus negócios.
O grande impacto sentido agora por fundadores de startups em todo o mundo diante de investidores mais cautelosos não é tão diferente do que mulheres líderes enfrentam até mesmo nas condições mais favoráveis macroeconomicamente.
Se é que se pode falar em lado positivo de uma situação gerada por um problema estrutural, permeado por estereótipos de gênero e vieses inconscientes, fato é que lideranças femininas já são obrigadas a se sairem bem em cenários desfavoráveis há muito tempo.
No mesmo ano em que receberam menos de 3% dos investimentos de Venture Capital, elas geraram o dobro de retorno para seus investidores, de acordo com o BCG & Masschallenge Report.
O que o ecossistema pode aprender com essas fundadoras que, mesmo diante das adversidades, são capazes de gerar resultados surpreendentes para seus negócios? Leia o nosso artigo e confira:
Resiliência e inovação para lidar com os desafios
Como podemos fazer nosso papel no ecossistema?
Resiliência e inovação para lidar com os desafios
O estudo “Women CEOs Speak”, da consultoria Korn Ferry, analisou a trajetória profissional de 57 mulheres CEOs e ex-CEOs. Um dos pontos analisados foram as competências que as entrevistadas procuraram desenvolver nos momentos cruciais de suas carreiras, e as mais citadas foram: visão estratégica, resiliência, coragem, autoconsciência e assumir riscos.
Além disso, elas estão mais propensas a inovar e buscar soluções perante os desafios: de acordo com uma pesquisa do Sebrae com a FGV, 11% das empreendedoras inovaram seus negócios durante a pandemia, enquanto apenas 7% dos homens promoveram alguma mudança.
Senso de comunidade
A jornada de uma mulher que empreende pode ser solitária e cheia de desafios. Em um ecossistema com baixa representatividade e menos oportunidades, elas aprenderam a se unir para se fortalecer.
O empreendedorismo feminino vem se tornando uma grande comunidade e dela surgem iniciativas como a WE Impact, primeira venture builder dedicada a mulheres líderes de startups.
Dados divulgados pelo Instituto Rede Mulher Empreendedora demonstram isso. Em meio à crise causada pela pandemia de covid-19, 90% das mulheres buscaram alguma forma de apoio. Já no caso dos homens, essa porcentagem cai para 80%.
Busca por conhecimento
Dados do Sebrae mostram que as mulheres que empreendem têm maior escolaridade que os homens, uma média de 10 anos de estudo, contra 8,5 deles.
Em uma época em que tudo se adapta e evolui de forma surpreendente, a busca pelo conhecimento deve ser contínua, mesmo depois de concluir um curso superior ou especialização.
O lifelong learning é crucial para que uma pessoa tome a decisão correta em meio a uma adversidade, como a que vem acontecendo no Venture Capital, ou ao se deparar com uma grande oportunidade.
Seguindo essa mentalidade, em geral, mulheres buscam sempre mais conhecimento, dedicando cerca de 23,5 horas por mês para se capacitar em temas ligados à gestão e empreendedorismo, segundo o relatório “Empreendedorismo Feminino: O VOO DELAS/ 2021”.
Propósito e impacto positivo
Ter um propósito bem definido é uma das principais motivações para não desistir do negócio ao se deparar com a primeira dificuldade. Nesse quesito, as mulheres fundadoras se mostram uma grande inspiração!
O mesmo estudo afirma que cada vez menos empreendedoras consideram desistir como uma opção. “Lutar por um sonho”, “dar continuidade ao que já foi construído” e “questões financeiras” são os principais motivos que encorajam essa decisão.
A possibilidade de gerar impacto positivo também é algo que impulsiona e fortalece as mulheres que estão à frente de empresas. O “Women CEOs Speak” mostrou que a motivação de 68% das entrevistadas em assumir o papel de liderança estava relacionada à possibilidade de suas empresas gerarem impactos positivos para colaboradores e para a comunidade.
O desejo de criar produtos e serviços nos quais se sitam incluídas, já que a maioria das soluções no mercado foram criados de homens para homens, também é uma motivação para mulheres que fazem parte do ecossistema de tecnologia e inovação.
Como podemos fazer nosso papel no ecossistema?
Se você quer transformar o ecossistema e contribuir com a equidade de gênero e representatividade feminina, recomendamos que conheça a cartilha Princípios de Empoderamento das Mulheres para Startups.
O material foi produzido pela WE Impact em parceria com a ONU Mulheres e Gema Consultoria, com base nos WEPs – Women’s Empowerment Principles, e completa 1 ano este mês.
No dia 26 de julho de 2022, às 17h, vamos realizar um evento comemorando este marco da cartilha, que já auxiliou centenas de empreendedoras e empreendedores a aprenderem sobre equidade de gênero, diversidade, inclusão e interseccionalidade e conhecerem mecanismos práticos para inserir esses valores no DNA de seus negócios.
Participe com a gente e aprenda mais sobre como implementá-los em todas as suas fases de desenvolvimento de uma startup. Inscreva-se pelo link.