Atualmente, o Brasil conta com mais de 30 milhões de empreendedoras, segundo dados do Global Entrepreneurship Monitor. Essa quantidade equivale a 48,7% do mercado empreendedor, quase se igualando ao percentual masculino. Por mais que exista um potencial de igualdade em números, ainda é preciso melhorar as condições e as oportunidades existentes para o empreendedorismo feminino no país.
Mesmo sendo as que mais empreendem por necessidade (44% contra 32% no caso dos homens, segundo o SEBRAE), as mulheres possuem menos horas para se dedicar ao empreendimento, dificuldades em fazer networking, captar investimentos e até conseguir aprovação de crédito.
Os obstáculos são maiores ainda no empreendedorismo feminino na tecnologia, onde, além da falta de apoio, há também a falta de representatividade: segundo o “Female Founders Report 2021”, estudo elaborado pelo Distrito em parceria com Endeavor e B2Mamy, apenas 4,7% das startups são fundadas exclusivamente por mulheres.
Programas de incentivo
Em contrapartida, existem dados que reforçam o poder de liderança, inovação e de resultado das empresas fundadas por mulheres: uma pesquisa do SEBRAE em parceria com a FVG mostra que 11% das empreendedoras inovaram em seus negócios durante a crise, enquanto 7% dos homens não fizeram mudanças. Empresas com líderes femininas têm resultados até 20% melhores, de acordo com a ONU, e maior potencial de gerar lucros para seus investidores, segundo a consultoria BCG.
Muitas iniciativas promovem e acreditam no empreendedorismo feminino e na diversidade na tecnologia, e a WE Impact é uma delas. Acreditamos na diversidade aliada à tecnologia como driver de inovação e, por isso, ajudamos empreendedoras e mulheres em posição de liderança a construírem startups tecnológicas, escaláveis e globais.
Uma das ações que promovemos para isso foi o Programa de Desenvolvimento realizado em 2020, que contou com a participação de 18 startups fundadas por mulheres. E, para encerrar bem 2021, já conseguimos enxergar os frutos dessa empreitada em prol do empreendedorismo feminino em tecnologia.
Aproveitamos o clima de união e gratidão que o final do ano traz, e convidamos algumas delas para contarem como estão agora, depois de passarem por aqui, e celebrar as suas conquistas, que geram impacto positivo para o ecossistema e a sociedade. Leia o artigo e confira:
Quem são as empreendedoras que passaram pela WE Impact
Os desafios do empreendedorismo feminino na tecnologia
Principais aprendizados durante o programa
Conselhos para quem está iniciando a jornada do empreendedorismo feminino na tecnologia
Quem são as empreendedoras que passaram pela WE Impact
Elas nadam contra a corrente ao fundarem startups de base tecnológica e, além dos desafios comuns ao mercado, precisam lidar com os desafios de ser mulher ocupando um cargo de liderança em um mercado majoritariamente masculino.
Muitas aderiram ao empreendedorismo feminino por não estarem satisfeitas com suas carreiras convencionais, algumas iniciaram suas trajetórias profissionais nesse ecossistema e outras já empreendiam há muito tempo, mas ainda não haviam se dado conta disso.
Luma Boaventura, fundadora e CEO da AI Robots; Ingrid Gielow, fundadora e CEO da ProBrain; Raquel Schramm, fundadora da EntregAli; Carla Sampaio, CMO da Exemplaria Solutions; Adalci Righi, fundadora e Diretora da Logpyx; Fabiane Kuhn, fundadora e CEO da Raks Tecnologia Agrícola; e Fernanda Verdolin, fundadora e CEO da WORKALOVE. Sete mulheres com histórias diferentes, mas com um propósito em comum: impactar o mundo com suas soluções.
Elas fazem parte do grupo de 25 mulheres das startups selecionadas entre um total de 1.500 empreendedoras inscritas para participar do programa de desenvolvimento da WE Impact. E tiveram acesso a 360 horas de mentorias, 24 webinars, 12 palestras, ferramentas e grandes oportunidades oferecidas pela WE Impact Network.
O fato de a iniciativa ser direcionada exclusivamente a startups fundadas por mulheres foi um ponto muito positivo para a maioria das participantes.
“Primeiro a questão de que é um programa voltado para negócios liderados por mulheres. A gente vê muito pouco disso. Estou participando de um programa de preparação para receber investimentos parecido com o da WE Impact, mas só tem homens – sou a única mulher.”
Raquel Schramm, fundadora da EntregAli
A oportunidade de adquirir conhecimento estratégico voltado aos negócios também chamou a atenção de muitas empreendedoras. É o caso de Fabiane, que enxergou no programa uma forma de aprimorar as habilidades do seu time: “como a minha formação e dos meus sócios é toda voltada à área de eletrônica, computação de produto, nós sempre buscamos por capacitações na área de negócios, para desenvolver essas skills”.
O aprendizado também foi um diferencial para Ingrid. A fundadora vinha da área da ciência e ainda não estava familiarizada com os termos e exigências do novo ecossistema. “Foi um programa estruturado. Digamos assim, partindo do ‘beabá’, algo com informações que me cobravam, me cobravam saber fazer uma série de coisas que nunca tinha ouvido falar sobre. Então eu, como empreendedora, ainda não sabia.”
Outro ponto de destaque foi a possibilidade de acesso às grandes empresas integrantes da WE Impact Network: “para mim, a Microsoft seria uma parceira muito estratégico, não só pela minha história de vida ter sido aprender programação no framework da própria Microsoft, mas porque vejo a mesma visão que nossa startup tem. Fiquei muito motivada por isso; primeiro pelo reconhecimento, porque passamos pelo processo de seleção, e segundo pela possibilidade de receber um aporte de um fundo de investimento que oferece Smart Money”, afirma Fernanda Verdolin.
Os desafios do empreendedorismo feminino na tecnologia
Conciliar maternidade e família, lidar com a síndrome de impostora, baixa representatividade, preconceito, desrespeito, dificuldade no levantamento de capital e em realizar conexões são desafios comuns ao empreendedorismo feminino citados pelas entrevistadas.
Para Luma, a WE Impact foi importante para a resolução deles ao criar um ecossistema de mulheres que atuam no mesmo setor e conseguem se ajudar de forma mais efetiva:
“A pessoa sente suas dores, tem empatia com o que você vive, porque vive da mesma forma. Acredito que o melhor ponto foi esse: as mulheres se ajudando de forma genuína, além de ter acesso a materiais muito consistentes, trocas de experiências entre as empreendedoras e as empresas que integraram o programa.”
Luma Boaventura, fundadora e CEO da AI Robots
Na visão de Fabiane, a criação de um ambiente acolhedor e sem julgamentos foi um grande diferencial. “É algo que não encontrei em outros ambientes de programas que participamos, onde, muitas vezes, temos aquele medo de perguntar, aquela vergonha”. Ela, que sempre esteve inserida em ambientes com baixa representatividade feminina, destaca também o fato de o programa ter evidenciado cases de sucesso de mulheres.
“Toda vez que me perguntar, “será que esse é meu lugar?”, já terei exemplos para saber que sim. Ao fazer parte de uma rede de apoio e ser apresentada a casos de sucesso de outras empreendedoras, não me lembro mais só de empresas lideradas por homens, e sim de empresas lideradas por mulheres e os resultados que elas tiveram”
-Fabiane Kuhn, fundadora e CEO da Raks
Principais aprendizados durante o programa
Além de ajudar as fundadoras a superarem desafios internos e sociais, o programa contou com mentorias e capacitações que trouxeram um conhecimento estratégico para o mundo dos negócios e investimentos.
Foi em um desses momentos que Fernanda Verdolin descobriu que o mercado em que atuava era muito pequeno para receber recursos de Venture Capital: “Ali na mentoria foi a primeira vez que percebi isso, então foi muito importante para o nosso amadurecimento. Depois, em todos os pitchs que fiz para Venture Capital, esse era o gargalo. Contribuiu para o meu processo de autoconhecimento e me ajudou a entender aonde quero chegar com o meu negócio”, explica.
Ingrid Gielow também teve um insight valioso para o futuro do seu negócio. Ela foi instigada a expandir seu público alvo, inicialmente formado apenas por fonoaudiólogos. Hoje, eles continuam sendo parte do mercado da ProBrain, porém, representam só 33% da base de clientes pagantes.
“A WE Impact nos trouxe uma visão de que tínhamos que olhar para um universo maior e não só é verdade que esse universo maior existia, como ele já tomou conta da maior parte da nossa base de pagantes. Isso foi essencial. Teríamos naufragado se tivéssemos continuado olhando apenas para aquele mercado inicial. E, se hoje estamos onde estamos, seguramente tem aí o balde de água fria que nos fez acordar.”
– Ingrid Gielow, fundadora e CEO da ProBrain
No caso de Carla Sampaio, os aprendizados contribuíram para a identificação dos pontos fortes e fracos da Exemplaria Solutions, para permitir uma tomada de decisões muito mais assertiva através dos dados. Ela identifica também as capacitações sobre vendas e Growth como divisores de águas para o seu negócio.
Já Adalci percebeu, com a ajuda da nossa CEO, LÍcia Souza, que seu acúmulo de tarefas estava atrapalhando o crescimento de sua empresa: “O programa me ajudou a enxergar a minha dificuldade de delegar, minha dificuldade de contratar pessoas para fazer as coisas que vinha fazendo. Estava no marketing, no comercial, no administrativo, no RH, tocando chapéus de várias funções diferentes e tem hora você precisa contratar alguém para estar 100% do tempo naquilo ali”.
Cerca de dois anos depois do programa de desenvolvimento da WE Impact, as fundadoras compartilham inúmeras conquistas e muito desenvolvimento. Dentre muitos outros feitos e realizações, elas se orgulham ao falar que:
- A AI Robots recebeu investimento financeiro e bateu a meta de faturamento de 2021
- A Raks Tecnologia Agrícola já conta com clientes em seis diferentes estados e iniciou uma rodada de captação no modelo de crowdfunding
- A EntregAli focou no desenvolvimento de seu produto e triplicou de tamanho
- A Logpyx desenvolveu mais dois produtos e hoje conta com três soluções baseadas na mesma tecnologia e endereçadas à área de logística
- A Exemplaria Solutions aprimorou seu principal produto e já está conseguindo validá-lo no mercado a partir de testes betas
- A WORKALOVE cresceu 236% no ano passado e, em menos de 4 anos de operação no Brasil, já é reconhecida entre as TOP 10 edutechs em importantes prêmios da área.
- A ProBrain desenvolveu seu produto, cresceu no faturamento e fechou uma nova rodada de investimento com bônus, preparando-se para focar na tração
7 Conselhos para quem está iniciando a jornada do empreendedorismo feminino na tecnologia
Como principais conselhos para quem está iniciando agora a jornada do empreendedorismo feminino na tecnologia, elas deixam alguns ensinamentos que adquiriram não só com a WE Impact, mas também durante toda uma trajetória. Confira:
Luma Boaventura acredita que incentivar e participar de diálogos que abordam as falhas e os gargalos do processo é extremamente importante para o aprendizado e para tornar essa trajetória mais leve!
Fabiane Kuhn indica todas a buscarem uma rede de apoio para que conseguirem passar pelos desafios de forma mais simples: ‘ninguém faz nada sozinho e é através de uma rede de apoio que conseguimos evitar cometer os mesmos erros, assim, podemos passar pelos desafios de forma menos sofrida e solitária.”
Raquel Schramm encoraja toda empreendedora a acreditar nas suas intuições muito fortes sobre seu negócio: “defenda a sua opinião, porque tem muita experiência atrás dela e, provavelmente, você vai estar certa.”
“Acredite em você mesma! Imaginamos que o nosso inimigo é o outro, mas o nosso pior inimigo somos nós mesmos e as falsas crenças que levamos para nossa vida”, reforça Adalci Righi ao comprtilhar seu conselho.
Carla Sampaio afirma que paciência, resiliência e, principalmente, a busca constante por conhecimento estratégico são essenciais para a construção de um negócio de sucesso.
Fernanda Verdolin convida as empreendedoras a olharem para o impacto que seus trabalhos promovem: “inspirar as pessoas a sonhar grande e apoiar para que esse sonho se torne realidade não tem preço. Se apaixone pelo benefício que seu trabalho gera.”
Ingrid Gielow chama a atenção para a importância de um time que vista a camisa da empresa: “construa um time que tenha brilho nos olhos, que esteja alinhado com o seu propósito, porque sempre temos altos e baixos e o time vai fazer toda a diferença.”
Conheça a WE Impact News
Este artigo foi produzido especialmente para a WE Impact News! Se você ainda não é assinante da nossa newsletter gratuita e colaborativa, clique aqui para assinar.
Nela, além de dicas e tendências sobre inovação, diversidade e negócios, você recebe também as oportunidades e iniciativas realizadas pela WE Impact e seus parceiros para apoiar o empreendedorismo feminino e promover uma maior representatividade das mulheres na tecnologia.