Fico a cada dia mais convencida de que igualdade de gênero e diversidade nas organizações é nosso diferencial para construir um futuro bom para mais pessoas e sustentável para todos.
Seja no desenvolvimento de novos produtos, processos, sistemas, os temas relacionados à criatividade e inovação estão cada vez mais ligados à capacidade de incluir pontos de vista e opiniões diferentes. Temos mais chances de fazer melhor , de dar “aquele” a mais, quando consideramos a pluralidade de pensamentos que encontraremos no mercado, além da nossa própria opinião.
A Flex sempre prezou pelo respeito. Como uma empresa multinacional, presente em mais de 30 países com 160 mil pessoas, ser diverso não é uma opção, é uma certeza. Porém, diversidade não é o mesmo que inclusão e foi com esse incômodo, de não perceber nossa diversidade em todas as áreas da nossa organização, que iniciamos um processo de auto-análise.
Nossas reflexões nos mostraram que podemos fazer algo que pode mudar o mundo. Podemos e devemos incluir e influenciar nossos colaboradores, fornecedores, clientes e apoiadores e assim iniciar um movimento de mudança social, com impacto positivo para os negócios.
O Brasil puxou essas ações e não demorou para virem as ações globais na mesma direção, começando pelo feminino. Temos urgência em acabar com as diferenças de gênero e sabemos ser um caminho longo ainda pela frente, mas que a ação que tomamos hoje trará um efeito futuro que só acontece quando se tem a coragem de começar. E não é só um trabalho isolado, ele passa pelas escolas, pelas famílias, pelas grandes e pequenas indústrias, ou seja, é um trabalho coletivo e precisa da sociedade para que aconteça.
Sou uma mulher líder em um mercado predominantemente masculino – como disse, a Flex é uma multinacional líder em inovação e tecnologia para a construção de produtos de marcas igualmente líderes de mercado e igualmente preocupadas com o impacto que causam nas comunidades onde atuam. Tenho o privilégio de ser patrocinadora do grupo de mulheres nessa empresa, que está preocupada em incluir cada vez mais representantes das diversas minorias em diversos lugares da empresa.
Mas não dá pra esperar chegar no mercado de trabalho para começar a produzir lideranças femininas. Nosso trabalho no Comitê já mostrou que é preciso conscientizar as mulheres cada vez mais do seu vasto horizonte, muitas precisam de apoio, de um voto de confiança, de uma oportunidade e isso passa por dentro de suas casas, com o apoio de seus pais, irmãos, companheiros e amigos.
Sou técnica em eletrônica e engenheira. Desde muito cedo, no técnico, e depois na faculdade, nunca houve muitas mulheres na minha turma, fomos um grupo que se contava nos dedos de uma única mão, em uma sala que chegava a cinquenta alunos. Hoje, isso não mudou muito, mas é daí que precisam surgir as próximas líderes.
O que precisamos é acreditar e abrir essas possibilidades para as mulheres, precisamos deixar nossas filhas sonharem com o que quiserem, nas áreas de tecnologia, engenharia, ciência, medicina, ou o que quer que seja o desejo que as tornem felizes e realizadas. Mas, para isso, é importante dividirmos histórias de mulheres bem sucedidas, lermos histórias daquelas que ousaram e se atreveram nas diversas ciências, heroínas reais que encontraram curas, descobriram substâncias, abriram caminhos. Elas são tantas…
Escrevendo uma nova história
Quando falamos em igualdade de gênero e liderança feminina, me lembro de alguns fatos de nossa história recente.
Foi veiculado na imprensa mundial, por exemplo, que, durante a guerra do Golfo, as mulheres muçulmanas, proibidas de dirigir por questões religiosas, entraram nos carros e saíram dirigindo para salvar a si, aos filhos e vizinhos. Quando a guerra acabou, elas foram julgadas e condenadas. Após interrogatórios e castigos, foram liberadas sob a promessa dos homens de suas vidas – pais, irmãos ou maridos – de que as manteriam controladas.
Eu sempre penso que o caminho ainda é muito longo, mas é certo que estamos caminhando, cada uma nos passos possíveis, mas nunca paradas.
Não vivemos este extremismo no Brasil, mas isso não nos torna extremamente mais inclusivos. Há espaços que ainda podem ser ocupados por mulheres em nossas empresas e acredito que tanto empresa quanto a sociedade têm muito a ganhar com essa inclusão. Igualdade de gênero e respeito às diferenças podem trazer inovação e aumentar a criatividade dos times. Pontos de vista diferentes só são possíveis a partir de realidades diferentes e, portanto, processos e produtos podem ganhar muito a partir dessa premissa.
Aqui na empresa, desenvolvemos um programa chamado Ela + Tech. Tivemos o suporte das meninas da Laboratória e, da primeira turma, saíram 15 profissionais, prontas e capacitadas para esse mercado super promissor, que só cresce em todo o mundo. Mas, como disse ali em cima, precisamos da sociedade.
Como não podemos voltar no tempo e mudar a história de muitas meninas, que hoje são mulheres e poderiam estar na área de tecnologia, criamos um novo programa: o YouFit. Baseado no interno, a primeira edição do YouFit é para mulheres que não trabalham na Flex pois já seguiram uma outra carreira, mas querem dar uma chance para aquele instinto interior que chama pela tecnologia.
Quando este texto for publicado, 20 novas profissionais estarão sendo capacitadas, de graça, para se tornarem programadoras, desenvolvedoras, testadoras de software, o que elas quiserem. E é assim que vamos contribuir para que novas profissionais iniciem em áreas antes exclusivas e predominantes para homens somente por uma questão de interesse pessoal, ou de oportunidade.
Há diversas pesquisas que comprovam que empresas mais diversas e com mulheres em posições de liderança são mais prósperas e mais justas. Acredito que isso se deve ao fato de que, entre outras características, essas empresas empregam pessoas flexíveis, homens abertos ao diálogo e criam uma atmosfera que facilita o “ouvir” entre seus colaboradores.
É importante que as mulheres se preparem e cheguem às cadeiras mais importantes das empresas, pois há muitas estratégias que precisam ser vistas pelo olhar de quem as executa nas bases e, não sei como é a realidade de todas as empresa, mas, na Flex, na base temos mulheres ocupando 50% dos postos de trabalho.
Esta é uma outra missão que o nosso comitê persegue: conhecer nossos números e medir nossas conquistas. Só podemos mudar o que conhecemos e, para conhecer, precisamos pesquisar, medir, avaliar, corrigir e começar o ciclo novamente!
Nestes três anos de comitê no Brasil, aumentamos em 54% a participação de mulheres nas áreas técnicas. E sabemos que precisamos de muito mais, por isso, criamos projetos que viabilizem esse objetivo. Queremos garantir que profissionais, independente de qualquer viés como seu gênero, sejam remunerados de forma justa e igualitária, e que todos possam concorrer às vagas.
Historicamente, sabe-se que a chance de uma mulher se candidatar a uma vaga sem preencher todos os quesitos é muito menor que de um homem com o mesmo perfil. Temos condições históricas a corrigir, tanto na remuneração, quanto no comportamento. Mas o mais importante é acender essa luz nas nossas meninas, de que elas podem e são capazes de muito mais. Derrubar os tabus que desmerecem suas competências é urgente.
Por fim, como empresa signatária das WEPs, devo dizer que me sinto privilegiada por estar neste caminho com tantas outras mulheres do nosso comitê. É realmente uma honra e uma super responsabilidade representar tantas profissionais extraordinárias.
Aproveito para agradecer aos homens que escolheram se aliar ao nosso comitê, se convencer as mulheres é uma etapa do processo, contar com o apoio dos homens é, sem dúvida, vital. Trazer a visão e opinião para as discussões também é diversidade e nos faz contribuir para um futuro melhor pra todos nós, juntos.
E deixo pra todos os pais de meninas uma indicação de leitura incrível, que minha filha ganhou da tia e, a cada página que lemos, vejo nos seus olhos a inspiração brotar: “Histórias de ninar para garotas rebeldes: 100 fábulas sobre mulheres extraordinárias”.
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